domingo, 21 de julho de 2013

#45. Diários de bicicleta/The bike diaries: dance your dreams

And then take yourself out dancing, to a club where no one knows you, stand on the outside of the floor until the lights convince you more and more and the music shows you. Dance like no one’s watching because they’re probably not. And if they are, assume it is with best human intentions. The way bodies move genuinely to beats, is after all, gorgeous and affecting. Dance until you’re sweating. And beads of perspiration remind you of life’s best things, down your back, like a book of blessings. (Tanya Davis, "How to be alone")

Era um dos dias de neve na Suíça, e eu assistia no meu quarto o pequenininho How to be alone enrolada no meu cobertor xadrez
E tem essa hora em que a menina esquisita do vídeo começa a dançar sozinha, vestido preto e óculinhos, linda, uma espécie de Mariana do outro lado mundo.
Embaixo do cobertor, então, eu adiciono um item a mais à minha lista de pequenos sonhos cotidianos.
: um dia eu vou estar tão feliz, mas tão feliz, que vou me dar de presente um vôo livre na pista de dança de algum lugar desconhecido do planeta. e neste dia em que o mundo fora de mim estará invisível, neste dia eu quero dançar mais ou menos igual aquela menina, dancing my dreams, o dentro virado do avesso, colonizando todos os pontinhos do universo à minha volta com o meu império interior.

***

Então ontem saímos para a noite de Porto - eu, Judi, os amigos belgas. Um complexo de 4 ruas, dois milhões de bares e clubes com todos os tipos de músicas possíveis e imagináveis. Uma, duas, três cervejas. Uma, duas, três da manhã, e a gente entra num bar de hip hop.
Não quero sair daqui.
Mas são quatro da manhã, o bar fechou. Judi e o belga querem dar mais uma volta. Eu não, eu quero ficar sozinha.  Tchau. O belga está preocupado, "don't worry, I'm ok!", eu respondo sorrindo. A Judi é minha companheira linda e já entendeu que eu estou pedalando uma montanha em pensamento. Dobro a esquina e entro num club lotado.
São 4:15 da manhã e está tocando punk rock. Eu estou feliz. Home, sweet rockn'roll home.

Então eu danço. E rola um monte de old punk rock misturado com um pouco de indie moderninho. Quando começa Blondie eu tenho vontade de chorar nesse meu único vestido florido e havaianas que estou vestindo há um mês. Estou pulando da maneira mais ridícula no meio da pista, e nem sei quem está do meu lado. Só danço, danço, danço, e já tem um tempão que estou assim quando parece que todos os homens do mundo vêm pegar na minha cintura, falar sei lá o que no meu ouvido, me puxar pra dançar. Nunca fiz tanto sucesso como hoje, com esta roupa bizarra e essa total ausência de batonzinho.
Não, hoje não. E resisto até ao homem barbudo mais lindo do mundo, que de camisa xadrez vem falar uma coisa que não entendo no meu ouvido. Nope. Nem mesmo você, gatinho.

Percebo um cara mais velho que eu, uns 40 anos, dançando com os bracinhos quando começa a tocar I fought the law, e nos cumprimentamos com o olhar. Sim, entendi. Você também é do rockn'roll, né? E a gente passa dançando perto a noite inteira sem trocar uma palavra. Os meninos continuam me puxando, mas agora eu nem abro o olho pra falar que não. De vez em quando levanto a cabeça só pra encontrar o olhar do meu vizinho punk. E quando toca Sound and Vision a gente se abraça, "I love it, I love it", "I know!!!!! Low's my favorite too!!!!!!!"
Não sei nada desse cara. Só que ele adora o Bowie de verdade.
 
É a última música. A luz acende, e eu abro espaço até a porta entre aquele monte de meninos da pista que ainda está atrás de mim. Eu realmente devo ser a pessoa mais bizarra desta cidade. Esta é a única explicação que consigo encontrar pro meu sucesso inesperado.
Encontro Porto ensolarada do lado de fora. São oito e meia da manhã e eu paro pra tomar um café com leite sozinha na padaria, celebrando melhor noite de rockn'roll da minha vida.


 *How to be alone

* Bowinho do meu coração 

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