segunda-feira, 1 de julho de 2013

#32. Diários de bicicleta, dia 2 - montanha acima até Vitoria

[English version below]
Dia 2
Beasain-Vitoria, 80km,MONTANHA, valezinhos micro, ciclistas profissionais por todos os lados - mas só no planinho, claro

De pé às 5:50, na estrada às 7, perdida meia hora, na montanha às 7:30.
Ninguém na rua. Morrendo de vontade de tomar um café com leite, meu corpo hoje nao vai a lugar nenhum. Tenho um medo desgraçado, hoje eu nao vou conseguir. Estatégia pare de pensar e pedale, piloto automático, vamos lá, coloca uma música aí no ipod e suba numa relax.
Tento Sigur Rós, mas só me dá melancolia e mais medo. Olho e vejo que lá em cima da montanha está uma neblina incrível. Aqui embaixo já tá chovendo.
Paro, coloco o casaco de chuva, chega. Vamos ouvir o novo do Daft Punk e subir, tenha paciência com seu corpo, Mariana nervosinha. Up we go.

Está uma chuva fininha e a montanha é linda. O asfalto é lisinho, às vezes passam uns carros. Os velhinhos dentro deles cruzam por mim bem devagarinho e dao tchauzinho, riem, as vezes buzinam. Agora é o segundo quilometro de subida e sou eu, a bike e Lose Yourself to Dance; já nao penso em nada e quando vejo estou lá em cima. 7.5km de subida e 655 metros de altura em Otsaurte, um desnivelamento de dar vontade chorar. Tem um café aberto, paro e peço um pingado. Dois ciclistas profissionais vestidinhos com roupinhas colantes e em suas road bikes acabam de chegar; um deles grita para o outro: ¿me quieres matar, hombre? Dois segundos depois eles olham minha bike com os alforges, pagam seus respeitos ao vizinho de mesa que está vestindo umas roupas esportivas e que eles pensam ser o dono da bike, e descem a montanha pelo outro lado. Agora sei como uma mártir anônima se sente.

A descida pra Altsasu é indescritível. Já sao umas 9 da manha, e pego a antiga estrada nacional sem ninguém. Pedalo sozinha olhando as montanhas, vou ouvindo Wilco e pensando na Ritinha. Nao existe nenhum outro lugar no mundo onde eu gostaria de estar agora.

Depois de 50 quilômetros minhas pernas já nao funcionam direito. É plano com algumas subidas, mas meu joelho direito dói, minhas costas estao cansadas. Cruzo muitos, incontáveis pelotoes de ciclistas profissionais. Devo ter encontrado nao mais que 3 mulheres ciclistas no caminho, só uma delas sozinha. Colocando em cima os alforges, deve ser por isso que eu chamo tanta atençao. Os ciclistas passam por mim e as vezes alinham pra perguntar onde eu vou. Encontro um ciclista mais velho que ja fez o caminho, me dá varias dicas e depois continua. ¡Valiente!, escuto aí por todas as partes, minha musiquinha na estrada do segundo dia.

Chego em Vitoria morta, largo as coisas no hostel e procuro um lugar pra comer. Nao existe comida sem carne. Como todas as porcarias fritas possíveis e me contento em passar a fome dos vegetarianos na Espanha. Descolo um kit kat na máquina do hotel, peço um Jack Daniels duplo e umas pedrinhas de gelo pra colocar no joelho e vou pro hostel. Coloco as pernas pra cima e começo a fazer uma massagem perto dos joelhos. Dói, e eu alongo, alongo, alongo...

Acordo umas duas horas depois, dormindo toda torta na cama. Já tinha dormido sem querer lendo um livro, mas dormir alongando é a primeira vez.




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