sexta-feira, 30 de novembro de 2012

#11. Susan Sontag: Amor/Love

Já faz um tempo que eu não escrevo, e a culpa é do meu projeto de doutorado.  Mas ele não tem culpa de nada, muito pelo contrário.  Porque nesse momento de simbiose absoluta, eu já nem sei quem eu seria sem ele.  E por isso: obrigada, doutorado, por me dar suficiente inspiração pra reconhecer o quanto esse livro da Susan Sontag é lindo.
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It's been a while, now: blame it on my PhD.  But it is not to be blamed, for in this symbiotic moment I cannot know who I am apart from my close relationship with it. So thanks, PhD topic, for giving me the inspiration to recognize how beautiful these writings by Susan Sontag are.
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http://www.brainpickings.org/index.php/2012/08/03/susan-sontag-on-love/


domingo, 21 de outubro de 2012

#10. Sobre o amor

 Para Julieta

Venho pensando no amor.   Comecei sem querer, lendo o Krishnamurti, que num dos livros dele me colocou essa pergunta aqui, difícil pro meu coração cheio de referências acadêmicas e de quatro anos de psicanálise: dá pra se relacionar com o outro sem se machucar e sem sentir um rancor crescente, mesmo quando o querer relacionar-se profundamente é justamente criar essa possibilidade, ou seja, estar aberto para sentir tudo isso, pra viver nos limites do mau-humor cotidiano, dos nossos dias de tédio e de ter sono, das diferenças que em dois segundos já viraram um monstrinho logo monstrengo de mágoa e outras asquerosidades sentimentais em geral?  E o jeito como ele redimensionou esta pergunta, antes de responder, fez choverem estrelinhas aqui, nesse meu quarto de estudante numa Suíça do quase-inverno.  Porque ele respondeu dizendo que esta seria uma questão impossível, e pra ela, só uma resposta impossível seria razoável.  Essa resposta impossível, pra ele, é o amor.*
Talvez eu tenha ficado tão sensível ao Krishnamurti ali porque a pergunta sobre o amor já tinha sido enfiada na minha cabeça não fazia muito tempo. Uns dias antes eu tinha falado com a Ritinha no Skype e ela me veio com essa, muito boa.  "Então, Mari, amor é o quê?".  Amor, pra ela, é amar e ponto.  Você não ama porque o outro te faz sentir bem, por exemplo - se fosse, logo que você sentisse que ele/ela não era mais capaz de provocar isso, seu amor acabava imediatamente.  Amor não é assim; é um tipo de coisa à qual a gente não renuncia e que, fazendo, é como matar uma parte de si (já fiz; a gente nunca se recupera direito). Amor é uma coisa que a gente sente e é gigante e maior do que a gente mesmo, mas que não pesa porque é bom; amar, portanto, é do registro dos impossíveis, do transcendente, do ládosladosdelá - muito, muito mais do que do aquidosladosdecá.
Ritinha, Krishnamurti e as pecinhas de dominó caindo, todas elas com corações em vez de bolinhas, um   dois   três   quatro  cinco   seis     e  zero.  O meu repertório de experiências, minhas imagens todas tentando fazer sentido do que é o amor pensado assim, como a pergunta impossível, a única que realmente importa.  E eu lembro do André Abujamra cantando "o infinito é infinito, o infinito é o amor, o infinito nunca acaba porque nunca começou". E experimenta fazer uma hora de prática de yoga especialmente pra Anahata, o chacka do coração, do amor incondicional e compassivo - com essas posturas em que você coloca o ombro pra trás e abre bem o tórax; me diz, então, se você não sai com vontade de beijar todo mundo na rua, abraçar árvore, e se não consegue ver cada folhinha da árvore mais nitidamente do que nunca? A vaca olhando pro bezerro. O olhar do meu cachorro quando eu chego em casa - ah, e eu tenho que dizer que o olhar do cachorro, no meu dicionário pessoal (se ele existisse), provavelmente seria a definição primeira de amor. O Tom Zé e o Hermeto Pascoal, eles são o próprio infinito, a criação liberada de tudo - e tem como qualificar aquilo que eles fazem sem usar como referência, aberta ou implícita, isso que eles parecem sentir por tudo, essa erotização absoluta do mundo? Falta de ar sem querer quando a gente sente cair um floco de neve    lindo   na bochecha; risada de criança de quatro anos; medo do dia em que a mãe vai morrer; qualquer música do Flaming Lips; "te considero pra caralho" na mesa do bar.  Pensando bem, não sei se existe alguma coisa que não seja ilusão fora disso: pegando na mão do Abujamra de novo, "só o amor é real".

<3  <3  <3
Referências pra você, então, com amor:

*Aqui vai o trecho do Krishnamurti, em francês, de "De l'amour et de la solitude", p. 18:"Il s'agit là du problème majeur de l'existence: savoir comment vivre une vie où l'esprit aborde la relation sans avoir été ni bléssé ni gauchi. Est-ce chose possible? Nous avons posé là l'impossible question. C'est une question impossible, dont il faut trouver l'impossible réponse. Car ce qui est possible est médiocre, déjà achevé, défunt; mais si l'on pose l'impossible question, l'esprit doit trouver la réponse. En est-il capable? L'amour, voilà la réponse. L'esprit qui n'enregistre nulle insulte, nulle flatterie, sait ce qu'est l'amour".

* Aqui vai o vídeo de "Essa Música Não Existe", do André Abujamra:

http://www.youtube.com/watch?v=ZuyDp3kkV4g


* Aqui vai a página "10paezinhos" do Fábio Moon e do Gabriel Bá - dois irmãos cartunistas maravilhosos, que têm as tirinhas mais cheias de amor do mundo:

http://10paezinhos.blog.uol.com.br/

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

#7. Música de Yoga


Não    é um jeito de dizer     curtinho    a nossa ilusão de que existem fronteiras bem desenhadas, impermeáveis, entre o eu e o você, entre o aqui e lá, entre o de dentro e o de fora, entre o homem e a mulher, o certo e o errado, o erro e o acerto, o finito e o infinito, o começo e o fim, a puta e a santa, a transcendência e o mundano - e principalmente entre o sim e o não.
Eu Não sou você, aqui não é lá, o que tá dentro não tá fora, eu sou mulher e você é homem, eu acertei e você errou de novo, o que é finito é da ordem do que não pode continuar pra sempre, eu sou a transcendência e não parte desse mundo, por que você me traiu se eu sempre te dei tudo? - uma coisa é uma coisa    outra coisa é outra coisa.

Na Yoga existem muitos Nãos, e um deles diz que a melhor forma de praticar as posturas é em silêncio, ouvindo a própria respiração.  Eu gosto mais da ordem dos Sims, do você é um pouco de mim e eu sou um pouco de você, e de o silêncio só existe porque a gente sabe que ele tá dentro da música também.  Por isso, hoje a minha dica é esse site incrível que a Renatinha indicou, de um cara que é professor de yoga, lindo, e que compõe umas músicas maravilhosas que a gente pode ouvir enquanto pratica:

http://www.andreasloh.com/yoga/yoga-piano/

#7. Yoga Music

No   that can be a short way to say     : I believe in the sharp borders, and they separate the me from the you, here from there, inside from outside, women from men, right from wrong, successes from failures, the finite from the infinite, beginning from end, the whores from the virgins, the divine from the material - and specially yes from no.
I am Not you, here's not there, that which lies inside definitely cannot be outside, I'm a woman-you're a man, we are supposed to be together forever, why did you betray me if I've given you everything I had? - one thing is one thing      other things are other things.
In some ways, Yoga as it is usually taught to us in gyms is the land of many Nos, and one of them says that the only acceptable way one should practice the poses/asanas is in complete silence, for that allows one to hear her own breath.  But I do love the land of Yes's, so today I insist for you to check this website recommended by my friend Renatinha - it's by this guy that teaches Yoga in Berlin and that composes amazing songs to hear while finding our way through all sorts of yoga poses:

http://www.andreasloh.com/yoga/yoga-piano/

And promise you here an experience in the land of IBetweens.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

#6. Sobre espiritualidade e pertencimento


L'homme est son propre maître et il n'y a pas d'être plus élevé, ni de puissance qui siège, au-dessus de lui, en juge de sa destinée. "On est son propre refuge, qui d'autre pourrait être le refuge?", dit le Bouddha.*
Regard experiences as if they were about to disappear.  What is it that anchors them in reality? What would you save of them? What would you give up?  Only someone who has achieved independence and detachment, someone whose homeland is 'sweet' but whose circumstances make it impossible to recapture that sweetness, can answer those questions.**

**

Foi agora, em julho.  Eu caminhava em Helsinki sozinha, o verão mais frio da minha vida, quando descobri que simplesmente não me encaixava. A estúpida descoberta espetacular.  Retardada no tempo, claro, sempre melhor saber disso aos 20 que aos 32.  Mas espetacular mesmo assim, não importa.
É que sempre tive a sensação de não pertencer a nada e a ninguém, desde pequenininha solta e um pouco deslocada por aí.  Arrepio a turmas grandes na escolinha e depois no colégio, ah!, eu já passei muito recreio brincando sozinha por não me dar bem com qualquer ética de grupo. Uns anos depois, já um pouco mais crescida, comecei a procurar aquele lugarzinho, no espaço e no tempo, que fosse exatamente, em cada milímetro, o lugar certo de se estar, onde eu finalmente pudesse dizer e sentir:   é aqui que eu sou.  A cidade onde as coisas estivessem acontecendo, a profissão que fosse sinônimo de vocação, o emprego que me permitisse realizar tudo, tudo mesmo, que minha imaginação e meu intelecto estivessem com vontade de fazer, sob pena de não cumprir minha missão nesta vida.  Não aceito nada menos - pertencer e exaurir possibilidades, voilà meu destino não cumprido sobre a face da Terra.  Que a vontade de realizá-lo como profecia tenha me levado de Curitiba pra Nova York pra Brasília pra Genebra pra Helsinki pra Paris, e de advogada para fotógrafa para assessora de direitos humanos para vegetariana e yogi e historiadora é motivo pra outro post.  Porque essa daqui é a epígrafe de um texto sobre espiritualidade, essa palavra que a modernidade quis expurgar da nossa casa mas que ainda é o elefante branco na nossa sala de jantar.

* * * 

Ser parte de uma religião é de alguma forma pertencer. É morar num país de pessoas que compartilham uma fé, e é além disso uma identidade - "ah, meu pai também é espírita!", "de qual orixá você é filho?", "não sabia que você era budista...".  Mas, pra mim, a primeira coisa que eu vejo em alguém que tem fé, não importa qual, é essa espécie de aura sagrada, esse vestir no próprio corpo algo que eu, eu realmente não sou capaz de viver, já que (como em todas as outras coisas), nunca consegui fazer parte de uma religião.  O cara que medita todos os dias de manhã, o evangélico que fala em línguas, o católico que paga promessa em Aparecida, a menina que faz a cabeça no terreiro e na saída dança num transe maravilhoso e o ateu convicto - todos, todos esses fazem visitinhas diárias para LáDosLadosDeLá.  Eles são os mensageiros, os guardiões dos portais, os viajantes entre dois mundos; eles compreenderam o sentido último, eles têm a chave do espírito, o segredo que une todos os tempos, e sobretudo eles serão salvos. Eu, eu não tenho mínima idéia de nada disso; ainda não consegui encontrar o ticket pro trem que vai pro lugar certo.

Claro que já tentei. Estive por todo lado, em várias práticas e cultos, mas é só aparecer um dogma, um pedaço de focinho de dogma, que pronto, tudo entra em crise.  Classicamente, minha primeira reação é tentar assimilar a Palavra e negar minha desconfiança ou crítica - vai, Mariana, obedece, sente o Poder, desta vez vai dar certo. Mas não, nada de catarse, nenhum presentinho pra mim: o tempo denuncia, começo a me achar ridícula repetindo aquelas coisas ou aqueles movimentos (essa minha desgraçada mente científica), falto uma ou duas vezes com minhas obrigações litúrgicas, e pronto, acabou, nunca mais apareço.  Depois, a reinterpretação: passa um tempo e eu compro alguns livros, vou de vez em quando no templo, dou umas rezadinhas que eles me ensinaram, mas do meu jeito, antes de dormir, acendo uma vela, enfio um pedaço do ensinamento do lado de todos os meus outros, rejeitando a metade, tudo isso num sincretismo que é muito, muito mais feio e esquizofrênico do que o Frankestein, e que justamente por isso não ousa muito sair do meu laboratório subterrâneo.

Assim, incapaz de me jogar sem rede de proteção em qualquer caminho religioso, é que sempre me senti algo entre injustiçada e um pouco brava com Deus.  Minha impossibilidade de ter fé em algum percurso religioso deve ser algo que denuncia um lado espiritualmente horroroso dentro de mim, e que eu infelizmente não consigo ver. Algo que, inacessível ao meu próprio consciente, eu sou incapaz de mudar.  Sou vítima de minha pequenez, da minha impropriedade de espírito, do meu baixíssimo nível de evolução, do meu provável karma tenebroso de outras vidas.  Por que, ave Maria puríssima, meus amigos tod@s descobriram O caminho de yoga que eles querem seguir, menos eu? Por que eu tenho sempre que querer uma respiraçãozinha diferente na minha prática yogi, quando os mestres dizem que não pode não pode não pode? Por que todo mundo ou é road biker, ou mountain biker, ou cicloturista, e eu continuo aqui, fazendo cicloturismo de road bike em trilha de terra?  No fundo no fundo, sempre vivi a impossibilidade de encontrar um caminho  pra mim como a negação do direito que eu tinha de viver minha espiritualidade.  Um que era dado para outros mas negado pra mim, que buscava tanto - e por que, qual a justiça que existia nisso?  Por isso, talvez, sempre achei que Deus não podia ser uma coisa tão boa assim.

Até ir pra Finlândia, que foi uma continuação mais ao norte do meu exílio em Genebra, mais ao sul.  Porque ali, naquele lugar, foi que eu cheguei no máximo da minha experiência de exilada: é um despertencimento tão reafirmado que não tem nenhum, mas nenhum jeito de apagar.  Está na cara: na Finlândia dos loiros-de-olho-azul eu sou claramente não finlandesa, e descobri ali que mesmo a minha cor, que sempre foi um dado pra mim, é diferente pra eles: eu não sou branca, sou oliva.  Ali fala-se uma língua que não parece com nada que existe neste planeta, e não interessa com quem eu esteja conversando e em que língua, na minha testa sempre vai estar escrito em letras maiúsculas - ESTRANGEIRA.  E num lugar de ser estrangeira o tempo todo por excelência, num lugar em que tentar pertencer é fingir ser uma coisa diferente, em que ninguém conhece você, em que o despertencimento é o cartão de visitas indefectível, o que é que sobra como identidade pra uma pessoa que não tem nem religião e que já teve todas as profissões do mundo?  Pra mim, sobrou lá minha deliciosa gororoba espiritual, minha síntese pessoal polissêmica e multifatorial, que é só minha, que é de tudo que eu sou e de tudo que eu vivi, e sobretudo de tudo aquilo em que eu resolvi acreditar, sendo coloridamente mariana.  E que isso não tem nem uma gotinha de descrença, mas é pra mim uma fé atravessada pela minha experiência, sem mestres ou juízes, sem inferno ou paraíso.  Depois daquilo, escolhi abraçar de vez essa terra de não pertencer a lugar nenhum, esse lugar onde eu misturo orgulhosa Buda com Edward Said. Sem nenhum guru e com muitos professores para ajudar o meu espírito nessa vida, eu caminho por aí, pedaço de qualquer coisa, mestiça crioula híbrida esquizôfrenica - Frankeinstonha contente cumprindo meu destino em todos os lugares da face da terra.




[*a citação é de "L'enseignement du Buddha d'après les textes plus anciens", de Walpola Rahula].
[**citação de "Reflections on Exile", do Edward Said]

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

#5. Yoga, Playmobils, Liniers & Macanudo

... tirinha do Liniers, este cartunista argentino incrível que é super famoso por lá, mas acho que já muito conhecido no Brasil (as tirinhas dele são publicadas já faz um tempo na Folha de S. Paulo uma vez por semana...).  Porque yoga também é leveza, e não precisa ser mais sério do que já é, né? 

Dar uma olhadinha neste site dele, que publica uma tirinha por dia, é um presente que você pode dar pra si mesm@ hoje:

http://macanudo.com.ar

#5. Yoga, Playmobils, Liniers & Macanudo

...  that's by Liniers, this Argentina-based cartoonist whose work's just simple, straight-forward yet highly philosophical. Because yoga is also about lightness and fun.
And his website with a (sweet, sweet) cartoon-a-day is nothing but absolutely genious:

http://macanudo.com.ar

terça-feira, 11 de setembro de 2012

#4. "Sadhu" - on cinemas in Switzerland from 26 September


I was leaving the movie theater one of these days and just happened to pass by this big poster with an image of (what appeared to my eyes as) some sort of traditional Yogi.  The title of the film announced on it was "Sadhu - seeker of truth".  I had always been curious about the Sadhus - 'holy men' from the Hindu tradition -, so I checked about the film in the internet, found the trailer interesting and now I'm waiting to watch it as soon as it reaches the cinemas of Geneva.  Gaël Métroz, the film director, is Swiss himself and in the website about the project he put on he describes the Sadhus as follows:

"From Sanskrit, 'good man, Holy Man', the sadhu makes the vows of poverty and chastity.  It is the mythical character of India, representing both the philosophy and the rejection of material goods in favor of spirituality.  'Sad' means truth and 'sadhu', the seeker of truth.  The sadhus cut all ties with their families, and have no wealth.  They live withdrawn, or are begging on the roads of India and Nepal feeding themselves with donations of the devotees.  Today they constitute 0.5% of India's population, but the authentic sadhus do not usually show outside the Kumbha Mela.  They practice meditation.  To part from the physical suffering that make men vulnerable, they impose themselves many mortifications".

There will be a premiere the 26 of September in Geneva with the presence of the director.  The (beautiful) website of the project is worth having a look:


And the trailer (subtitles in French!) you can watch here:






#4. "Sadhu" - estréia na Suíça 26.09

Vi o cartaz por coincidência enquanto saía do Cine Grütl aqui em Genebra, dia desses.  Fiquei curiosa, olhei na internet, gostei do trailer e agora quero ver esse filme sobre a trajetória de vida e os conflitos pessoais de um Sadhu - servidor de Deus ou "homen santo", na tradição hindu.  O diretor do filme, Gael Mëtroz, é suíço e define os Sadhus assim no site dele sobre o filme:

"From Sanskrit, 'good man, Holy Man', the sadhu makes the vows of poverty and chastity.  It is the mythical character of India, representing both the philosophy and the rejection of material goods in favor of spirituality.  'Sad' means truth and 'sadhu', the seeker of truth.  The sadhus cut all ties with their families, and have no wealth.  They live withdrawn, or are begging on the roads of India and Nepal feeding themselves with donations of the devotees.  Today they constitute 0.5% of India's population, but the authentic sadhus do not usually show outside the Kumbha Mela.  They practice meditation.  To part from the physical suffering that make men vulnerable, they impose themselves many mortifications".

No dia 26 de setembro rola uma pré-estréia em Genebra com a presença do diretor, no cinema La Scala. O site (lindo) do projeto é este:


E o trailer do filme você pode assistir aqui (com legendas em francês...):



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

#3. Meditating with Hayao Miyazaki

I found out about Hayao Miyazaki when I was living in New York, in 2002.  By then I had two Japanese flatmates, and he was getting popular everywhere because of his Spirited Away, which was soon to become a fever and to be awarded prizes in the United States and the golden bear in the Berlin Festival.  At that point I didn't know any of that, and the three of us used to watch his films together, in Japanese, Izumi and Mariko making their best to translate them into English for me...  It was from them, my flatmates, that I learnt that Hayao Miyazaki is worshiped as some sort of deity in Japan, and that one of his main distinctive artistic features lies in the fact that he uses Shintoist elements in his movies: nature is usually the main character, placed between the material and the spiritual levels.  I took this week to watch most of his stuff, which I found available at a film store nearby.  This is one of my favorites:

#3. Meditação com Hayao Miyazaki

Descobri o Hayao Miyzaki quando eu vivia em Nova York, em 2002, dividindo apartamento com duas amigas japonesas.  Na época ele já estava ficando popular em todo lado por causa de A Viagem de Chihiro, que virou uma panacéia universal e ganhou prêmios nos Estados Unidos e o urso de ouro no festival de Berlim daquele ano.  Mas naquela época eu não sabia de nada disso, e a gente assistia os filmes deles em casa, em japonês, com tradução simultânea para o inglês pelas meninas.  Com elas eu aprendi que o Hayao Miyazaki é uma espécie de unanimidade nacional no Japão, venerado pelos adultos e pelas crianças, e que uma das suas marcas é usar elementos do xintoísmo nos filmes: a natureza como personagem animado.  Em A Princesa Mononoke, por exemplo, aparecem esses bichinhos brancos, que são a representação do eco.  Tirei a semana para ver todas as coisas dele, que eu encontrei numa locadora aqui perto de casa; esse aqui é um dos meus preferidos:


domingo, 9 de setembro de 2012

#2. e.e. cummings (from and for Rita)/(de e para Rita)


#1. What it is all about


LáDosLadosDeLá, or FromTheOtherSide, is a geographical location.  By definition, it is the kingdom of Beyonds - that one Superman flies into after his "up, up, and away", and exactly the same one caravel-men sailed to a couple of years ago (yes, those same people who have mistakenly reached FromThisSide).  It is the place where those who have died live nowadays and, in its condition of special location, it is the preferential asylum for the families of those Who Have Not Been Touched by Knowledge and to that of the Unknown by Science.  In fact, in FromTheOtherSide reside all those who refuse to be known, and surely they do not speak the language of scientific discipline.  FromTheOtherSide is inhabited by those who we cannot see as One: 1. the disposable pieces that have never reached the form of a meaningful organism and defy all metaphysical convictions; 2.  the unlimited, boundary-free ones, that being as wide as they are we cannot dare to conceive - the infinite, the immortal and their relatives.  We get close    ...   and it's already gone.  It is a place that resist descriptions but accept pictorial approximations.  It defies meaning but invites experience.
* * *
- Just like a bicycle ride, my metaphor of life, for it implies constantly being and leaving somewhere at the same time.
- Like that which beyond the physical reality I feel    alone    in my own body    when I'm lying on my yoga mat.
- Exactly like my definitely arrogant vegetarian dignity.
* * *
Those are the things I want to talk about.  And I want to talk about it FromTheOtherSide - the asymmetrical countercouncept of FromThisSide, of everything that is already known, of the homeland.  As a matter of fact, FromTheOther Side is this house that has a sort of a decadent sign in which Exile is written in pale golden letters.  Welcome: it can be your home too, if you wish so.

#1. Sobre LáDosLadosDeLá

LáDosLadosDeLá é um lugar no espaço.  Ele é, por definição, o endereço do que não está do lado de cá.  É o lugar dos aléms, aquele lugar pra onde vai o super-homem dizendo "pra cima e avante", e exatamente o mesmo para onde um dia se atiraram os homens das caravelas (esses mesmos, os que chegaram LáDosLadosDeCá). É onde vive quem já morreu, sendo tanto, ou ao mesmo tempo, da ordem dos intocados pelo conhecimento e da família das coisas que a ciência não descobriu. Do signo daqueles que nunca se dão ou darão a conhecer, LáDosLadosDeLá vivem aqueles que simplesmente não reconhecem a língua da disciplina científica.  É o lugar onde estão os que se recusam a revelar-se inteiros: 1. lugar dos pedaços que desafiam as metafísicas todas do mundo e nunca formam nenhum organismo; 2. ou, DoLadoDoAvesso dele mesmo, é também onde co-habitam essas criaturas da totalidade sem limites, que de tão imensas a gente não consegue imaginar - o infinito, o imortal e seus cônjuges. LáDosLadosDeLá, sendo o lugar dos aléms e desconhecidos, é portanto o lugar dos mistérios e dos espíritos, do que não se apresenta a não ser como metáfora.  A gente se aproxima    vupt    pega um relance de olho num pedaço do rabo ou do bico, mas nunca entende direito que bicho é, se é que tem bicho ali.  Nunca o lugar dos descritivos, mas do pictórico.  É o lugar da experiência, não do sentido.
* * *
-Como um passeio de bicicleta, minha metáfora particular da vida, que é ao mesmo tempo estar e partir.
- Como as coisas que eu sinto sozinha num tapete de yoga, e que estão pra depois da ordem do físico e que eu nunca consigo explicar sem deixar meu interlocutor sem impressão de estar falando com uma hippie.
- Como minha soberba e arrogante dignidade vegetariana.
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Porque é dessas coisas que eu quero falar.  E falar delas LáDosLadosDeLá, que sendo por definição o contraconceito assimétrico de AquiDosLadosDeCá, do que a gente conhece, é a casa que tem uma placa Exílio, em um dourado meio descascando, pregada na porta.  Fique à vontade, pode entrar: a casa é sua também.