terça-feira, 9 de julho de 2013

#41. Diários de bicicleta: dias 10 e 11/The bike diaries: days 10 and 12

[English version below]

Nothing ever stays the same. Nothing´s explained. The higher we go, the longer we fly. Cause this is it for all we know. So say good night to me. Lose no more time - no time - resisting the flow. ['Ohm', Yo la Tengo ]

Dois dias viajando com Judy e os dois bombeiros lindos.
Enfrentamos a etapa mais dura do caminho, montanha tenebrosas, e normalmente eu chego em casa dormindo em pe.
Gosto dos meus companheiros. As vezes nos perdemos nas descidas, mas sem querer nos encontramos 20km depois. Estamos todos por nos mesmos, e em dois dias nos separamos. Existe uma tristeza e um compromisso de liberdade nisso, e por isso nao fazemos planos. Eu gosto disso aqui. E percebo que na vida, tambem.
E um eterno estado de graca, e as vezes sinto que o tempo nao existe. Que nada existe. Que a vida nao passa disso, de um caminho.

Estou a um dia de Santiago e meu coraçao nunca esteve mais leve.
Nao tenho mais medo das montanhas, e agora rezo pra encontrar umas subidinhas.
Nao tenho vontade de matar as pessoas.
Meu joelho se recuperou com banhos diários nos rios mais gelados do mundo.
Conheci tanta gente interessante que parece que 11 dias foram 11 anos. E com meus últimos amigos do caminho aprendi coisas importantes, como: é preciso pedalar sem calcinha/cueca, senao rolam assaduras; o mais importante nao e pedalar 100km por dia, mas sim parar pra enfiar o joelho no rio e beber cerveja, e rir, e dormir na grama; um dia de descanso a cada 7 é essencial, mesmo que voce nao saiba.
Parei de fumar.

E como nao sei o que fazer, e como ja nao tenho casa em lugar nenhum, e como sinto que a unica coisa que consigo fazer agora e andar de bicicleta, decidi que vou continuar pedalando.
Sigo pela costa de Portugal até Lisboa. Mais 1000km mais 15 dias. Depois, quem sabe, pego um aviao pra Berlim e faço mais uma viagem pelo Alemanha.
A diferenca e que agora passa uma coisa diferente. Nao quero pedalar pra resolver nada, nem pra aprender cicloturismo, nem pra explorar o mundo, e nao sinto mesmo que tenho mais que aprender a fazer cicloturismo. Isso eu ja sei, e do meu jeito.
Agora eu me sinto vazia.
Quero pedalar por mim mesma.

Acabam aqui, portanto, os diários de bicicleta da minha viagem pra Santiago. Hora de começar novas histórias.




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Nothing ever stays the same. Nothing´s explained. The higher we go, the longer we fly. Cause this is it for all we know. So say good night to me. Lose no more time - no time - resisting the flow. ['Ohm', Yo la Tengo ]

I´m a day away from Santiago and my heart has never been that light in my entire life.
I´m not afraid of the mountains anymore.
I´m not tired of people anymore.
My knees got better with daily baths in the cold rivers of Galicia.
I don´t remember having met so many interesting people in such a short amount of time... 11 days were worth more than eleven years. My new friends have taught me so much...: you should not ride wearing underwear, 100km a day should not be a goal, you should rest every 7 days or so.
I quit smoking for good. I don´t change my love for mountains for any cigarette in the world.

As I have no home, and as I don´t know what to do, I will keep cycling. I will follow the coast of Portugal, at least 1000km more. After that, I might cycle in Germany. starting from Berlin.
Now I´m not cycling to find out about myself or to sort out my stuff. I am not cycling for the adventure, and I don´t feel I need to learn something.
I´m just cycling by myself.
That´s the end of these bycicle diaries about my journey to Santiago de Compostela. Time to start writing new stories.


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