quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

#17. Entrar no paraíso pedalando: guia pra viajar de bicicleta na Suíça, parte 1

El diámetro del Aleph seria de los dos o tres centímetros, pero el espacio cósmico estaba ahí, sin disminución de tamaño. Cada cosa (la luna del espejo, digamos) era infinitas cosas, por yo claramente la veía desde todos los puntos del universo...... vi la circulación de mi propia sangre, vi el engranaje del amor y la modificación de la muerte, vi el Aleph, desde todos los puntos, vi en el Aleph la tierra, mi cara y mi vísceras, vi tu cara, y senti vertigo y lloré, porque mis ojos habían visto ese objeto secreto y conjetural, cuyo nombre usurpan los hombres, pero que ningú hombre ha mirado: el inconcebible universo.Sentí infinita veneración, infinita lástima." (El Aleph, Jorge Luis Borges)

O ciclismo no post-mortem
A gente morre e vê a luz – bem longe, bem longe. A gente caminha e ela continua pequenininha; cada centímetro do caminho é uma passagem da vida com todas as coisas que ela contém, até chegar no segundo final em que você encontra a luz a ela se funde no tempo presente da morte vivida, e o presente é a consciência condensada de tudo que você é e viveu – voilà, você ganhou o passaporte pros ladosdelá.  Você caminha, e todo centímetro contém o mesmo que o Aleph do Borges, todos os acontecimentos que você viveu vividos dentro de você mesma, mas você assiste agora dentro e fora de você. Todas as pessoas e todas as sensações, incluindo a cãibra que você sentiu no pé naquele dia da quinta série, o cheiro do seu cabelo quando você saiu do banho em 4 de janeiro de 1986, o olho vermelho de cloro da sua primeira vez na piscina e também o olho vermelho de todas as outras primeiras vezes: da primeira vez que você viu alguém morrer, do seu primeiro beijo, da descoberta do sexo do outro; da primeira vez que você assistiu alguém que você amou dormindo do seu lado e pensou que nunca mais queria sair dali. Quentinho da lágrima mais chorada da infância na sua bochecha esquerda, bem na voltinha do nariz, e ela vem junto com aquela sensação horrível do brinco furando sua orelha quando você ainda era bebê e sua mãe achava que você não sentia nada, nem dor nem alegria
Se você vai andando, nunca mais vai chegar naquela luz lá longe.  De carro nem pensar – ir pra luz de carro é a morte mais sem poesia que pode existir. De motocicleta pra quem gosta – à la Easy Rider -, vá lá, ou de trem.  O melhor veículo, aquele com a velocidade perfeita e a sensação física do vento na cara e do corpo que não saiu do planeta Terra e que ainda se esforça joelho acima pra continuar – o melhor veículo pra passar pro lado de lá é definitivamente a bicicleta.
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Porque
A vida é um passeio de bicicleta.
Se você morrer e tiver opção, escolha a bicicleta. 
E se você continua viva e tiver que escolher um caminho pra chegar na luz, escolha uma ciclovia suíça e saia pedalando. 
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Pergunte-me como
Ao que interessa: a Suíça é um paraíso pra quem quer fazer turismo em cima da bicicleta.  Imagine um país minúsculo, cheio de paisagens lindas, montanhas nevadas, vaquinhas pastando, lagos e rios cor de turquesa, e tudo isso atravessado por um sistema de ciclovias gigante e super organizado. Multiplique sua imaginação por mil.  É isso.
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Quando: mas faz frio, então é preciso escolher.  Primavera, verão e comecinho do outono (bem comecinho) ainda dá; o inverno é longo, nem pense (já testei todas as estações com minha compnaheira de ciclismo e tivemos o pé traumaticamente congelado nos primeiros quinze minutos do outono). Em termos calendáricos, isso significa:
- Abril, maio e junho, quando ainda é friozinho-fresquinho e você caminha no meio das flores (ou da chuva, viu?, porque chove bastante nessa época!)
- Julho, agosto, setembro: é calor, mas à medida que chega perto do outono vai ficando espetacular, com as folhinhas vermelhas forrando árvores e chão por todos os lados.

Pra onde ir? Suíça-maravilhosa, pensamento de gavetinhas etiquetadas: há um site oficial contendo TODAS AS ROTAS de bicicleta ao longo do país.  Segure na mão de Deus – se quiser fazer ciclismo na Suíça, se agarre nele com todas as forças quando vier pedalar por aqui: www.veloland.ch
Pra começar, há 9 rotas nacionais maravilhosas  e muito bem sinalizadas – cada uma tem um número (1, 2, 3, 4…) e você vai literalmente seguindo as plaquinhas. Essas rotas nacionais têm aproximadamente 400 quilômetros cada uma e são temáticas: a rota 9 te leva pra um circuito de vários lagos da Suíça, a 8 faz você seguir o (lindíssimo!) rio Aare e assim por diante.  Há rotas mais difíceis, com montanhas e trechos de terra, e há rotas mais tranquilas, planinhas e generosas.  Tudo isso você encontra nesse site – e vale mesmo a pena olhar direitinho. Já subi montanha e realmente, companheiros, subir montanha de bike na Suíça é para pessoas com muito amor no coração.
Com 400 km, as rotas nacionais são longas, mas elas também estão divididas em várias seções de 20, 30 km cada.  Você pode fazer um ou dois ou três ou quatro pedaços da rota, e depois simplesmente parar, pegar o trem e voltar pra cidade onde você está, e aí sair de novo no outro dia – sim, você pode levar sua bicicleta no trem (o preço do ticket pra bike viajar de trem ilimitadamente durante um dia é de 14 francos suíços, mais ou menos 11 euros).
O sistema de trem é maravilhoso na Suíça, e se você estiver em algum lugar central do país (Berna, Zurique, Genebra, Lausanne), não se preocupe que você encontrará condução pra sua casa.  Pra qualquer dúvida, o site dos trens suíços é este:
Ou você pode dormir e continuar no outro dia, e nesse caso utilize esse maravilhoso site insider com alojamento estilo bed & breakfast ao longo de toda a Suíça:
Além das rotas nacionais, há também regionais e locais, mas elas são um pouquinho mais chatinhas porque às vezes eles sinalizam o caminho com placas invisíveis.  Ou enfiam as placas visíveis em lugarem invisíveis, não sei (a rota regional 50, por exemplo, eu já tentei umas três vezes – sempre me perco). Enfim: experimente as nacionais primeiro, e depois parta pras rotas alternativas, baby.

Seja suíço, consulte a previsão do tempo: se vier pedalar, um dia antes de sair para o seu passeio consulte a previsão do tempo no www.meteosuisse.ch.
E sempre tenha uns 3 planos de passeio no bolso pro caso do tempo estar ruim pra um deles.
Se eles disserem que tem vento, acredite, treine a humildade e passe pro passeio plano B ou C.  Ou se prepare pra ralar o tcham: com vento o passeio fica pelo menos 50% mais difícil.
O mesmo vale pra chuva. 

Fotinhas

Exemplo de plaquinhas das rotas na Suíça


Pedalando em abril: nossas bicicletas encontrando descanso num dia dia de primavera.

No meio da rota 8, lá na Suíça profunda. Amigas, bicicleta, a ótima sinalização suíça

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Amanhã continuo esse post, que já está grande demais, com dicas de bicicleta, o que vestir, o que enfiar na mochila/alfoje etc.
E não posso deixar de dizer: tudo que está aqui foi de alguma maneira aprendido, compartilhado, vivido, sofrido, e/ou aproveitado com a Carol - minha amiga-irmã, companheira, querido presente recebido dos céus por Deus para viver os melhores momentos na Suíça.  Namastê, Caroles.
Todas as fotos por/no celular de CAROL.

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