El diámetro del Aleph seria de los dos o tres centímetros, pero el espacio cósmico estaba ahí, sin disminución de tamaño. Cada cosa (la luna del espejo, digamos) era infinitas cosas, por yo claramente la veía desde todos los puntos del universo...... vi la circulación de mi propia sangre, vi el engranaje del amor y la modificación de la muerte, vi el Aleph, desde todos los puntos, vi en el Aleph la tierra, mi cara y mi vísceras, vi tu cara, y senti vertigo y lloré, porque mis ojos habían visto ese objeto secreto y conjetural, cuyo nombre usurpan los hombres, pero que ningú hombre ha mirado: el inconcebible universo.Sentí infinita veneración, infinita lástima." (El Aleph, Jorge Luis Borges)
O ciclismo no post-mortem
A gente morre e vê a luz – bem longe, bem longe. A gente
caminha e ela continua pequenininha; cada centímetro do caminho é uma passagem
da vida com todas as coisas que ela contém, até chegar no segundo final em que
você encontra a luz a ela se funde no tempo presente da morte vivida, e o
presente é a consciência condensada de tudo que você é e viveu – voilà, você
ganhou o passaporte pros ladosdelá. Você
caminha, e todo centímetro contém o mesmo que o Aleph do Borges, todos os
acontecimentos que você viveu vividos dentro de você mesma, mas você assiste
agora dentro e fora de você. Todas as pessoas e todas as sensações, incluindo a
cãibra que você sentiu no pé naquele dia da quinta série, o cheiro do seu
cabelo quando você saiu do banho em 4 de janeiro de 1986, o olho vermelho de
cloro da sua primeira vez na piscina e também o olho vermelho de todas as
outras primeiras vezes: da primeira vez que você viu alguém morrer, do seu
primeiro beijo, da descoberta do sexo do outro; da primeira vez que você
assistiu alguém que você amou dormindo do seu lado e pensou que nunca mais
queria sair dali. Quentinho da lágrima mais chorada da infância na sua bochecha
esquerda, bem na voltinha do nariz, e ela vem junto com aquela sensação
horrível do brinco furando sua orelha quando você ainda era bebê e sua mãe
achava que você não sentia nada, nem dor nem alegria
Se você vai andando, nunca mais vai chegar naquela luz lá longe. De carro nem pensar – ir pra luz de carro é a
morte mais sem poesia que pode existir. De motocicleta pra quem gosta – à la
Easy Rider -, vá lá, ou de trem. O
melhor veículo, aquele com a velocidade perfeita e a sensação física do vento
na cara e do corpo que não saiu do planeta Terra e que ainda se esforça joelho
acima pra continuar – o melhor veículo pra passar pro lado de lá é
definitivamente a bicicleta.
Porque
A vida é um passeio de bicicleta.
Se você morrer e tiver opção, escolha a bicicleta.
E se você continua viva e tiver que escolher um caminho pra
chegar na luz, escolha uma ciclovia suíça e saia pedalando.
***
Pergunte-me como
Ao que interessa: a Suíça é um paraíso pra quem quer fazer
turismo em cima da bicicleta. Imagine um
país minúsculo, cheio de paisagens lindas, montanhas nevadas, vaquinhas
pastando, lagos e rios cor de turquesa, e tudo isso atravessado por um sistema
de ciclovias gigante e super organizado. Multiplique sua imaginação por
mil. É isso.
Quando: mas faz
frio, então é preciso escolher.
Primavera, verão e comecinho do outono (bem comecinho) ainda dá; o
inverno é longo, nem pense (já testei todas as estações com minha compnaheira
de ciclismo e tivemos o pé traumaticamente congelado nos primeiros quinze
minutos do outono). Em termos calendáricos, isso significa:
- Abril, maio e junho, quando ainda é friozinho-fresquinho e
você caminha no meio das flores (ou da chuva, viu?, porque chove bastante nessa
época!)
- Julho, agosto, setembro: é calor, mas à medida que chega
perto do outono vai ficando espetacular, com as folhinhas vermelhas forrando
árvores e chão por todos os lados.
Pra onde ir? Suíça-maravilhosa,
pensamento de gavetinhas etiquetadas: há um site oficial contendo TODAS AS
ROTAS de bicicleta ao longo do país. Segure na mão de Deus – se quiser fazer
ciclismo na Suíça, se agarre nele com todas as forças quando vier pedalar por
aqui: www.veloland.ch
Pra começar, há 9 rotas nacionais maravilhosas e muito bem sinalizadas – cada uma tem um
número (1, 2, 3, 4…) e você vai literalmente seguindo as plaquinhas. Essas
rotas nacionais têm aproximadamente 400 quilômetros cada uma e são temáticas: a
rota 9 te leva pra um circuito de vários lagos da Suíça, a 8 faz você seguir o
(lindíssimo!) rio Aare e assim por diante.
Há rotas mais difíceis, com montanhas e trechos de terra, e há rotas
mais tranquilas, planinhas e generosas.
Tudo isso você encontra nesse site – e vale mesmo a pena olhar
direitinho. Já subi montanha e realmente, companheiros, subir montanha de bike na
Suíça é para pessoas com muito amor no coração.
Com 400 km, as rotas nacionais são longas, mas elas também
estão divididas em várias seções de 20, 30 km cada. Você pode fazer um ou dois ou três ou quatro
pedaços da rota, e depois simplesmente parar, pegar o trem e voltar pra cidade
onde você está, e aí sair de novo no outro dia – sim, você pode levar sua bicicleta no trem (o preço do ticket pra
bike viajar de trem ilimitadamente durante um dia é de 14 francos suíços, mais
ou menos 11 euros).
O sistema de trem é maravilhoso na Suíça, e se você estiver
em algum lugar central do país (Berna, Zurique, Genebra, Lausanne), não se
preocupe que você encontrará condução pra sua casa. Pra qualquer dúvida, o site dos trens suíços
é este:
Ou você pode dormir e continuar no outro dia, e nesse caso
utilize esse maravilhoso site insider com alojamento estilo bed & breakfast
ao longo de toda a Suíça:
Além das rotas nacionais, há também regionais e locais, mas
elas são um pouquinho mais chatinhas porque às vezes eles sinalizam o caminho
com placas invisíveis. Ou enfiam as
placas visíveis em lugarem invisíveis, não sei (a rota regional 50, por
exemplo, eu já tentei umas três vezes – sempre me perco). Enfim: experimente as
nacionais primeiro, e depois parta pras rotas alternativas, baby.
Seja suíço, consulte
a previsão do tempo: se vier pedalar, um dia antes de sair para o seu
passeio consulte a previsão do tempo no www.meteosuisse.ch.
E sempre tenha uns 3 planos de passeio no bolso pro caso do
tempo estar ruim pra um deles.
Se eles disserem que tem vento, acredite, treine a humildade
e passe pro passeio plano B ou C. Ou se
prepare pra ralar o tcham: com vento o passeio fica pelo menos 50% mais
difícil.
O mesmo vale pra chuva.
Pedalando em abril: nossas bicicletas encontrando descanso num dia dia de primavera.
No meio da rota 8, lá na Suíça profunda. Amigas, bicicleta, a ótima sinalização suíça
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No meio da rota 8, lá na Suíça profunda. Amigas, bicicleta, a ótima sinalização suíça
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Amanhã continuo esse post, que já está grande demais, com
dicas de bicicleta, o que vestir, o que enfiar na mochila/alfoje etc.
E não posso deixar de dizer: tudo que está aqui foi de alguma maneira aprendido, compartilhado, vivido, sofrido, e/ou aproveitado com a Carol - minha amiga-irmã, companheira, querido presente recebido dos céus por Deus para viver os melhores momentos na Suíça. Namastê, Caroles.
Todas as fotos por/no celular de CAROL.
Todas as fotos por/no celular de CAROL.
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