domingo, 11 de agosto de 2013

#49. Diários de bicicleta: revisão dos 3.000km

In a nutshell

No comeco foi assim: minha amiga Carol e eu decidimos fazer uma viagem de 14 dias em bicicleta. Saímos da Bretanha no dia 14 de junho e pedalamos 1200km descendo a costa atlântica da França até a fronteira com a Espanha, no País Basco.
As férias acabaram, ela voltou. Eu tinha fechado meu apartamento em Paris e não conseguia responder à pergunta fundamental - "voltar pra onde?"- , porque acho que de um jeito ou de outro sempre me senti parte de lugar nenhum. Diálogo interno com meu corpo que então só estava se acostumando a passar o dia sentadinho na bike, eu decidi pedalar até Santiago de Compostela porque precisava de respostas. No começo, sozinha, mas no caminho pesquei alguns amigos espanhóis e conheci a Judi, minha nova companheira de bici. Cheguei a Santiago com o coraçao mais leve, sem muitas respostas, mas pelo menos com perguntas mais interessantes. Na calculadora somei mais 800km, tive uma história de amor daquelas bem lindas com um ciclista espanhol e descobri que eu gosto mesmo é de pedalar as montanhas.
Depois de Santiago deu um vazio, mas não deu nenhuma vontade de voltar. Peguei a Judi e fomos descendo pela costa em direção a Portugal pra descobrir que os nossos colonizadores são motoristas pitbulls. No caminho passamos por um parque nacional espanhol, fizemos um hikingzinho e acampamos, adicionamos mais uns 300km ao nosso odômetro e pegamos um bronze maravilhoso pelas praias que a gente encontrou.  Era verão e fazia sol por dentro e por fora.
Mas eu queria ficar na Espanha e sair do Portugal infernento das estradas. Então roubei papelão no lixo, montei uma caixa e peguei um horroroso vôo da Ryanair pra Barcelona. O ticket da bicicleta custou mais do que o meu. Cheguei sem saber pra onde ir, mas Barcelona é maravilhosa, né?, e quando eu entrei na primeira loja de bicicleta com um mapa na mão e perguntei pro menino do conserto "pra onde eu vou?", ele apontou vulcões, praias transparentes, cidades medievais e mais uma tonelada de montanhas, e então alguma coisa dentro de mim começou a rir bem alto de novo. Santiago is over, mas o mundo, o mundo é um lugar localizado no beyond e está cheio das ciclovias que você quiser, te levando pra onde você escolher. Este é o Caminho.

Foi bem assim que descobri que a Catalunha, vista por dentro, é um coração em formato de bicicleta.

Na dureza de serras infinitas e paisagens agrestes do Dali, fechei meus 3.000km de bike. Pra celebrar, tomei um trem pra Zaragoza, deixei a bicicleta no hostel e peguei um buzão pros Pireneus. Porque os Pireneus - olha, os Pireneus sempre foram o meu sonho. E eu caminhei 60km neles em três dias, saindo todos os dias da minha barraquinha azul de trinta euros que viveu tormentas inenarráveis, chuvas de granizo e ventanias que me assombraram e não me deixaram dormir.

O escocês que é campeão de corrida no leste da Suíça, e que caminha Alpes e Himalaias semanalmente, me acompanhou e descreveu nas caminhadas: I have never seen a woman as strong as you in the mountains.
Obrigada, Ranald.
Subi no carrinho dele e peguei uma carona até Genebra, rezando pela segurança da minha bicicleta em Zaragoza. Subi na balança e pluft: 5.5kg a menos, as pernicas duras  e uns músculos na bunda que eu nem sabia que existiam.
Parece que eu estive 3 anos fora.
Em quatro dias eu volto pra Espanha pra pedalar mais um mês. Ou dois, até o outono chegar.
Porque ainda     ainda eu não descobri pra onde eu posso voltar.
Sadhu.

 *Vista na chegada de bicicleta à praia de Montjoi, na Catalunha


 *Hiking os Pireneus


*Minha barraquinha valente
 
*Judi e a terrível confecção de caixas caseiras para transportar a bicicleta no vôo da Ryanair

*o filme que é uma espécie de identidade

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