sábado, 25 de maio de 2013

#28. Dream a dream with me: 1200 km de bicicleta na França

Começou sem nenhuma pretensão - eu chegava em Genebra em 2011 para o doutorado, e no primeiro mês conheci a amiga de um amigo. Ela, brasileira, tinha vivido em Brasília, estava aqui de passagem por trabalho e gostava de bicicleta.
Eu também gostava, mas estava acostumada a pedalar sozinha.  Nunca gostei da pressão dos pelotões de road bikers, que colocam a cabeça pra baixo pra aumentar a aerodinâmica e pedalam sem parar pra ver que o sol está nascendo atrás do lago. E embora o barulhinho dos quadros de carbono à passagem do pelotão sempre tenha soado como música nos meus ouvidos, e o prazer de pedalar em cima de uma road bike superasse o prazer de quase todo o resto das coisas que existem, nunca encontrei ninguém pra subir numa road bike como se estivesse indo fazer um piquenique no parque.
Então combinei de fazer uns pedais com a Carol.
* * * 
Era verão, o sol se punha às 10 da noite, e começamos a dar umas voltinhas em volta da cidade, duas horas pedalando depois do trabalho. O verão foi virando outono devagar, e um dia nosso pé congelou no caminho, voltamos antes e em seguida as bicicletas fizeram a longa viagem de esquecimento no inverno suíço. Cross my heart and hope to die, nos prometemos que em seis meses, quando o sol voltasse de novo na primavera de 2012, iríamos juntas dar a volta de 180km em volta do Lac Léman - esta coisa linda e cristalina que avança de Genebra a Lausanne, Montreux e a um monte de cidades francesas.
E assim, uma semana depois da páscoa de 2012, finalmente demos a volta no Lac Léman e logo em seguida em todos os outros grandes lagos suíços - Neuchatel, Interlaken. Percorremos a fronteira com a Alemanha e Áustria em torno do Bodensee, e daí pra diante conhecemos praticamente a Suíça inteira, entre milharais, cadeias montanhosas, trilhas seguindo lagos e rios e - muito especialmente - vaquinhas pastando com sininho no pescoço.
* * *
Com o tempo nossas engenhocas amadoras foram sendo substituídas por equipamentos mais técnicos e sem nor darmos contas fomos nos tornando cada vez mais parecidas com ciclistas normais. Melhoramos as bicicletas, arranjamos novos casacos corta-vento, instalamos uma infinidade de bolsinhos e porta-coisas nas vélos, aprendemos a consertar correias emperradas, mas nesses anos encontramos muito, muito poucas mulheres pedalando. E ao contrário dos meninos, quase nunca acompanhadas de outras mulheres.
Eu me acidentei batendo num vaso, ela se acidentou batendo numa cancela fechada. Tomamos chuva, passamos um frio desgraçado, ouvimos rock'roll rural em cima do selim, encontramos criações de lhamas em plena Suíça, vimos cabritos escalarem os lugares mais inesperados, caímos em todo tipo de festa bizarra local na Suíça alemã e uma vez tomamos esta cerveja que só pode ser bebida em dias de lua cheia.
Metáfora entre observar e estar presente, entre o estar e o partir, a vida é como um passeio de bicicleta.  E quando a gente tem sorte, existem companheiros pra dividir a viagem com a gente.
* * *
O próximo projeto é percorrer 1200km, saindo do norte da França, lá na Bretanha, até a fronteira com o País Basco, no sul. Desta vez eu e Carol vamos com carregamento - mochila e barraca, 15 dias de viagem, bicicleta de cicloturismo. Sairemos no dia 14 de junho de 2013 e esperamos chegar no dia 29 ao destino final.
O roteiro da viagem está aqui embaixo, e daqui pra frente esta história de preparações e de experiências vai ser contada aqui.
http://www.velodyssey.com/
Dream a dream with me.

Um comentário:

  1. Que fantástico, Lady Mari! Essa história promete! Azeite nas engrenagens e manda bala. Fico aqui na torcida e acompanhando as notícias!

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