terça-feira, 5 de maio de 2015

#74. O mundo sem anéis


Vão-se os anéis, ficam os dedos. Vazios ao longo, assim como as palmas da mão quando soltas - só que estas não: vazias de. Mão e dedos, unhas e pele, e as juntas agradecem quando falta a luva, a pulseira e o relógio. Imagine uma argola pendurada na bandeira da república. Ordem e Progresso embrulhando um pedaço de pão?
Se está cheia de coisas dentro ou em volta, a mão não consegue flamejar.
No espaço, os anéis de Saturno. O planeta mais bonito do sistema solar, mas por lá nós não conseguimos viver. Tanta gravidade, poeira estelar que virou bijuteria celestial, ali não dá pra caminhar. Em Saturno só podem aqueles sem corpo, aqueles que não respiram. É preciso ser completamente livre pra se mover frouxo quando existe muita força de atração.
Na Terra é igual. A mesma força, só que outros anéis. Mas eles podem ir, e ficam os dedos. A casa pode queimar, mas fica o chão. Daqui nada se leva. A roupa mais bonita é a nudez. Minhas palavras preferidas são as mais simples. Sim. Ar. Pão.


O mundo sem anéis como palma e dedos abertos, bandeira solta no ar, viajar sem destino, inventar sem lugar pra chegar no fim. Sair de bicicleta sozinha numa tarde de verão e voltar três meses depois. E um dia escrever um livro que não tem começo, não tem final e não tem sentido: diários, memórias, ilustrações e algumas ideias. Um livro que é como preferir as perguntas às respostas, e que é como se perder esquecendo de querer se encontrar.
"O Mundo Sem Anéis - 100 meditações sobre 100 dias viajando de bicicleta" é minha primeira vez e vai ser lançado em Brasília pelo selo mais legal e alternativo do mundo: www.muitolonge.com.br. Conta do meu jeito a viagem de bicicleta pela França e pela Espanha dois anos atrás. Sai lá pelo final de junho, e as datas e os detalhes eu aviso por aqui.
O desenho é um estudo chamado "Queda livre em traje de banho". Que não é a capa do livro. E que não é viagem de bicicleta, embora se pareça com ela. No fim das contas o que a gente quer é voar.

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